Após a foto de uma bebê fardada com algemas e cassetete gerar polêmica
nas redes sociais, campanhas surgiram na internet para que pais
divulguem mais fotografias de seus filhos menores com uniformes. A
imagem da menina foi publicada nos sites oficiais da Polícia Militar
(PM) de
São Paulo e, posteriormente, foi retirada pela corporação.
Além de fotos de crianças fardadas, internautas militares ou
simpatizantes de todo o país postaram vídeos em repúdio àquelas pessoas
que criticaram a foto da bebê fardada com armamento.
Entre as fotos quer circulam na web em apoio à divulgação da imagem da
bebê fardada estão algumas com crianças segurando ou portando na cintura
o que parecem ser armas -pela imagens não é possível saber se são
verdadeiras ou de brinquedo.
Outras também posam com equipamentos militares. Há até uma foto antiga,
atribuída ao ano de 1932, com crianças usando uniformes ao lado de um
canhão. (Em 1932, o estado de São Paulo estava mobilizado em um conflito
armado, a
Revolução Constitucionalista.)
Essas imagens estão sendo publicadas e compartilhadas em comunidades ligadas a militares no Facebook.
“Vai ter criança fardada sim seus imbecis vagabundos!”, informa trecho
de um texto numa das páginas de um dos grupos que mostra um
recém-nascido vestido com uma camiseta em alusão a uma das tropas da PM.
“Preocupem-se em cuidar das Crianças desamparadas, use seu poder e
dinheiro em favor dos pequenos oprimidos e para de se incomodar com
aqueles que seguem princípios e tradições”, escreveu um internauta sobre
uma foto que mostra quatro crianças fardadas, com boinas e cintos.
"Eu prefiro ver crianças fardadas do que vê-las entregue ao crime
[SIC]", informava a frase sobre a fotomontagem que exibe crianças
vestidas como policiais ao lado de outra com um garoto armado
representando um bandido.
Foto da bebê publicada no Twitter e Facebook da
Polícia Militar (a distorção do rosto foi feita pelo G1)
(Foto: Reprodução/Twitter)
A foto da bebê uniformizada, com algemas e cassetete, que desencadeou
essa avalanche de novas imagens de crianças uniformizadas havia sido
divulgada no último dia 2 no Facebook e Twitter da PM de São Paulo. Mas
ela acabou
retirada pela própria corporação, dois dias depois que o
G1 publicou reportagem sobre o
debate na web por causa da imagem.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Polícia Militar havia
informado que a decisão de retirar a foto ocorreu por causa do
"mal-entendido". A publicação da fotografia da bebê estava recebendo
críticas e elogios na ocasião.
Naquela oportunidade, Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do
Movimento Nacional de Direitos Humanos e um dos fundadores da Comissão
da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB), tinha dito à equipe de reportagem que a exibição da
foto violava o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Eu prefiro ver crianças fardadas do que vê-las entregue ao crime"
“Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a vexame ou a constrangimento”, com pena de seis meses a dois
anos, segundo afirmou Alves. “A criança é colocada em uma situação
constrangedora, vexatória. Foi exposta com uma arma, ainda que não seja
uma arma de fogo, mas armas usadas para reprimir, como o cassetete e a
algema para prender".

O coordenador pedia a retirada da foto ou a retratação da corporação
por entender que ela poderia gerar problemas para a criança no futuro.
“Por ela ter sido colocada com símbolos de repressão e violência de uma
polícia vista como repressiva, ela pode passar por situações de
constrangimento na escola”, disse.
Castro também afirmou nesta quinta-feira (11) que já pediu ao setor de
Direitos Humanos do Ministério Público (MP) de São Paulo que analise o
caso.
A Polícia Militar, por meio de sua assessoria, tinha rebatido as
críticas na internet, informando que as fotos publicadas nas redes
sociais são enviadas por internautas. Além disso, informou em nota, que a
farda simboliza, entre outras coisas, "honra" e "civismo".
Ainda na semana passada, em nota à equipe de reportagem, a Polícia
Militar informou que a mãe da criança havia interagido com a publicação,
agradecendo a corporação pela divulgação da foto num comentário.
Procurada pela TV Globo, a mulher afirmou, no entanto, que
não autorizou a publicação. Disse ainda que a imagem foi feita em um ensaio fotográfico com a criança.